HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA

07/03/2011 09:54

 

 

TEMA: HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA

Resumo

            A Educação Física sofreu influência do militarismo e da medicina no século XVIII e XIX. Tal influência contribuiu para uma aprendizagem mecânica e sem reflexão, na qual ocorria a incorporação de normas e valores militares e higiênicos. A educação do corpo (que separava a dimensão pensante ‘res cogitans’ da dimensão corporal ‘res extensa’). Após este período (influência que ainda apresenta resquícios nos dias atuais) a Educação Física teve uma influência pouco significativa da Escola Nova na década de 30 que utilizava o discurso “Educação é um direito de todos e dever do estado”, pressuposto contido na constituição de 34. Este movimento pregava uma Educação Física que respeitava a personalidade da criança, porém perdeu forças com a instalação do Estado Novo (Getúlio Vargas). Somente com o fim do Estado Novo (que coincidiu com o fim da Segunda Guerra Mundial – 1939 à 1945) que surgiram novos movimentos com o Método Natural e o Desportivo Generalizado, no qual o foco não era mais exclusivamente a saúde, a higiene e a aptidão física, mas o rendimento esportivo. Tem-se uma mudança da relação professor-treinador e aluno-recruta para professor-técnico e aluno-atleta. O esporte na escola (que se opõe ao esporte da escola) ganha forças com a Ditadura Militar (Golpe Militar de 31/03/1964). Somente com a abertura política e a vinda de professores pós-graduados do exterior que a Educação Física passa a contestar os movimentos anteriores considerados mecanicistas e esportivistas. Os novos movimentos consideram o desenvolvimento da criança, os processos cognitivos, afetivos e psicomotores; buscam garantir a formação integral do aluno; a partir das interações da pessoa com o mundo; e questionam as atitudes alienantes da educação física na escola.

 

Introdução

Este conteúdo tem como objetivo identificar as características apresentadas pela Educação Física nos diferentes momentos históricos que refletem as necessidades sociais, isto é, está subordinada aos diferentes interesses: aperfeiçoamento da aptidão física (influência militar), alienação e rendimento esportivo.

Segundo Bracht (1999, p. 74), “a constituição da educação física [...] escolar emergente dos séculos XVIII e XIX, foi fortemente influenciada pela instituição militar e pela medicina”. A influência do militarismo e da medicina na Educação Física contribuiu para uma aprendizagem mecânica e sem reflexão. Neste contexto a disciplina era utilizada na incorporação de normas e valores. Por meio da educação do corpo (o autor enfatiza a separação de corpo e intelecto, e a valorização deste), isto é, hábitos saudáveis numa perspectiva nacionalista, não apenas terapêutica, as formas culturais eram instrumentalizadas.

A Educação Física no Brasil, nas primeiras décadas do século XX, era entendida como atividade exclusivamente prática, já que atuavam nas escolas os instrutores pertencentes às instituições militares.

Destaca-se que, até essa época, os profissionais de Educação Física que atuavam nas escolas eram os instrutores formados pelas instituições militares. Somente em 1939 foi criada a primeira escola civil de formação de professores de Educação Física (Brasil, Decreto-lei nº 1212, de 17 de abril de 1939). (SOARES et al., 1992, p. 53).

De acordo com Darido (2003), somente com a influência dos educadores da Escola Nova, estimulados por Dewey, a Educação Física insere nas suas propostas o respeito à personalidade da criança. Porém, o movimento perde forças com a instauração do Estado Novo, no qual foi suprimida da constituição de 37 a parte da constituição de 34 que dizia: “A educação é um direito de todos e dever do estado”.

Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que coincide com o fim da ditadura do Estado Novo no Brasil, surgem outras tendências disputando a supremacia no interior da instituição escolar. Destaca-se o Método Natural Austríaco desenvolvido por Gaulhofer e Streicher e o Método da Educação Física Desportiva Generalizada, divulgado no Brasil por Auguste Listello. Predomina nesse último a influência do esporte que, no período do pós-guerra, apresenta um grande desenvolvimento [...]. (SOARES et al., 1992, p. 53-54).

A supremacia dessas tendências influencia sobremaneira o esporte no âmbito escolar, tornando a Educação Física subordinada aos códigos da instituição esportiva, prevalecendo à competição, o rendimento, a racionalização de meios e as técnicas. Esta influência estabelece novas relações, passando de professor-instrutor e aluno-recruta – quando influenciado pela instituição militar – para a de professor-treinador e aluno-atleta (SOARES et al., 1992).

De maneira similar, Freire (2007, p. 115), ao discutir sobre os métodos de educação utilizados, nos quais as crianças são “confinadas” e a falta de movimento parece ser necessária para a aprendizagem, relata que “nenhuma Educação Física foi tão eficiente como aquela praticada pelos nazistas durante a ascensão de Hitler, nem tão bem-recebida pelos ‘pensadores’ brasileiros da Educação Física da época como ela o foi”, período que a Educação Física foi usada como dominação, na qual o corpo acaba sendo como o poder (imóvel, rígido, conservador). De maneira similar Medina (1992, p. 78) escreve que configura-se mais um adestramento, situando os aspectos psicológicos, sociais, morais e espirituais num segundo plano ou mesmo irrelevantes. O autor relata que os profissionais que são “adeptos desta concepção definem a Educação Física simplesmente como um conjunto de conhecimentos e atividades específicas que visam o aprimoramento físico das pessoas” (MEDINA, 1992, p. 78).

Porém, este movimento perde força com a instauração do governo militar, em 1964, quando a Educação Física torna-se sinônimo de esporte, e a frase mais conhecida nesta época é “Esporte é saúde”. Em crítica a este momento a Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas de São Paulo (apud Darido, 2003, p. 3), considera que:

[...] em relação à metodologia, além dos procedimentos diretivos, as tarefas eram apresentadas de forma acabada e os alunos deviam executá-las ao mesmo tempo, ao mesmo ritmo, desprezando os conhecimentos que a criança já construiu, impondo-lhes valores sociais e culturais distantes da sua realidade.

O binômio mais utilizado na Educação Física escolar, a partir da década de 50, é Educação Física/esportes, crescendo tanto que, em 1969, ele entra na planificação estratégica dos governos ditatoriais, provocando inclusive a subordinação da Educação Física escolar ao esporte. Essa situação só vai se alterar nos anos 80, quando adentramos a fase caracterizada por questionamentos dos períodos anteriores, perda das certezas até então estabelecidas, revelando uma verdadeira crise de identidade.

No final da década de 70, a Educação Física conta com novos movimentos cada qual com sua especificidade; porém, todos tendo em comum a tentativa de romper com os modelos anteriores que privilegiavam a reprodução da técnica esportiva. Tais modelos são considerados mecanicistas, por estimular a prática mecânica (sem conscientização das finalidades advindas da prática corporal, mas visando unicamente à competição, à vitória), e tecnicistas, por racionalizar os meios e técnicas (na busca da vitória, a repetição e o aperfeiçoamento técnico eram exacerbados).

Atualmente, os Parâmetros Curriculares Nacionais nos apresentam quatro grandes tendências pedagógicas:

- PSICOMOTORA: nessa tendência, a educação física está envolvida com o desenvolvimento da criança, com os processos cognitivos, afetivos e psicomotores, buscando garantir a formação integral do aluno. O conteúdo predominantemente esportivo é substituído por um conjunto de meios para a reabilitação, readaptação e integração que valoriza a aquisição do esquema motor, da lateralidade e da coordenação viso-motora. A principal vantagem dessa abordagem é a maior integração com a proposta pedagógica da educação física. Porém, abandona completamente os conteúdos específicos dessa disciplina, como se o esporte, a dança, a ginástica fossem inapropriados para os alunos.

- CONSTRUTIVISTA: a intenção dessa tendência é a construção do conhecimento a partir das interações da pessoa com o mundo. Para cada criança a construção do conhecimento exige uma elaboração, uma ação sobre o mundo. A proposta teve o mérito de considerar o conhecimento que a criança já possui e alertar o professor sobre a participação dos alunos na solução dos problemas.

- CRÍTICA: passou a questionar as atitudes alienantes da educação física na escola, sugerindo que os conteúdos selecionados para a aula devem propiciar uma melhor leitura da realidade pelos alunos e possibilitar, assim, sua inserção transformadora nessa realidade.

- DESENVOLVIMENTISTA: busca nos processos de aprendizagem e desenvolvimento uma fundamentação para a educação física escolar. Grande parte do modelo dessa abordagem relaciona-se com o conceito de habilidade motora, pois é por meio dela que as pessoas se adaptam aos problemas do cotidiano. Para essa abordagem, a educação física deve proporcionar ao aluno condições para que seu comportamento motor seja desenvolvido pela interação entre o aumento da variação e a complexidade dos movimentos.