Jiut-Jitsu

01/04/2015 19:21

História

 

O Jiu-Jitsu brasileiro ou, lá fora, o Brazilian Jiu-Jitsu ou BJJ (grafado também como jujitsu ou jujutsu) é uma arte marcial de raiz japonesa que se utiliza essencialmente de golpes de alavancas, torções e pressões para levar um oponente ao chão e dominá-lo. Literalmente, em japonês signfica “suavidade”, “brandura”, e jutsu, “arte”, “técnica”. Daí seu sinônimo literal, “arte suave”.

Sua origem secular, como sucede com quase todas as artes marciais ancestrais, não pode ser apontada com precisão. Estilos de luta parecidos foram verificados em diversos povos, da Índia à China, nos séculos III e VIII. O que se sabe é que seu ambiente de desenvolvimento e refinamento foram as escolas de samurais, a casta guerreira do Japão feudal.

A finalidade de sua criação se deu pelo fato de que, no campo de batalha ou durante qualquer enfrentamento, um samurai poderia acabar sem suas espadas ou lanças, necessitando, então, de um método de defesa sem armas. Como os golpes traumáticos não se mostravam suficientes nesse ambiente de luta, já que os samurais vestiam armaduras, as quedas e torções começaram a ganhar espaço pela sua eficiência. O Jiu-Jitsu, assim, nascia de sua contraposição ao kenjitsu e outras artes ditas rígidas, em que os combatentes portavam espadas ou outras armas.

A arte marcial ganhou novos rumos quando um célebre instrutor da escola japonesa Kodokan decidiu ganhar o mundo e provar a eficiência de seus estrangulamentos e chaves de braço contra oponentes de todos os tamanhos e estilos: Mitsuyo Maeda, um filho de lutador de sumô nascido no povoado de Funazawa, cidade de Hirosaki, Aomori, no Japão, em 18 de novembro de 1878, e falecido em Belém do Pará a 28 de novembro de 1941.

Eterno defensor das técnicas de defesa pessoal do Jiu-Jitsu, Maeda embarcou para os Estados Unidos em 1904, em companhia de outros professores da escola de Jigoro Kano. À época, graças aos laços políticos e econômicos entre Japão e EUA, as técnicas japonesas encontravam grandes e notórios admiradores em solo americano. Em 1903, por exemplo, o presidente Theodore Roosevelt tomara aulas com o japonês Yoshiaki Yamashita. Nos EUA, o ágil japonês começou a colecionar milhares de combates e adversários tombados pelo caminho, em países como a Inglaterra, Bélgica e Espanha, onde sua postura nobre fez nascer o apelido que o consagrou, Conde Koma. De volta à América, o lutador fez diversas apresentações e desafios em países como El Salvador, Costa Rica, Honduras, Panamá, Colômbia, Equador, Peru, Chile e Argentina. Em julho de 1914, o valente japonês de 1,64m e 68kg, segundo consta, desembarcaria no Brasil para fincar raízes e mudar a história do esporte.

Maeda colecionaria histórias saborosas em terras brasileiras. Após rodar pelo país, o faixa-preta de Jiu-Jitsu se estabeleceu em Belém do Pará. Certo dia, encarou o desafio de um capoeirista conhecido como “Pé de Bola”, de cerca de 1,90m e quase cem quilos. Maeda não se fez de rogado e ainda deixou o ousado rival portar uma faca na luta. O japonês desarmou-o, derrubou e finalizou o brasileiro. Conde Koma, como se tornou tradição entre os professores de Jiu-Jitsu, também lançava desafios para rivais famosos do boxe. Foi o que fez com o afamado boxeador americano Jack Johnson, que jamais aceitou a luta.

Foi Koma, ainda, que promoveu o primeiro campeonato de Jiu-Jitsu do país – na verdade, um festival de lutas e desafios para promover o esporte desconhecido.

Em 1917, um adolescente de nome Carlos Gracie (1902–1994) viu pela primeira vez, em Belém, uma apresentação do japonês que era capaz de dominar e finalizar os gigantes da região. Amigo de seu pai, Gastão Gracie, Maeda concordou em ensinar ao garoto irrequieto a arte de se defender. Em suas aulas, ensinava a Carlos e a outros brasileiros – como Luiz França, que mais tarde seria mestre de Oswaldo Fadda – os conceitos de sua arte: em pé ou no chão, a força do oponente deveria ser a arma para a vitória; para se aproximar do adversário, o uso de chutes baixos e cotoveladas deveriam ser os artifícios antes de levá-lo para o chão. Para evolução nos treinos, lançava mão do randori, o treino à vera com um companheiro.

Aluno fiel, Carlos Gracie abraçou de vez o Jiu-Jitsu e, para lamento da mãe que sonhava ver mais diplomatas na família célebre, passou a incutir nos irmãos o amor pela arte. Um de oito irmãos (Oswaldo, Gastão Jr., George, Helena, Helio, Mary e Ilka), Carlos abriu, em 1925, a primeira academia de Jiu-Jitsu da família Gracie. Nos jornais, o anúncio era uma obra-prima do marketing: “Se você quer ter um braço quebrado procure a academia Gracie”.

O grande mestre teria 21 filhos, sendo que 13 deles se tornariam faixas-pretas. Cada membro da família passou, então, a fortalecer a arte e a acrescentar mais um elo à corrente criada por grande mestre Carlos, fundador e guia do clã, além do primeiro membro da família a se lançar numa luta sem regras, a que chamou de “vale-tudo”. Foi em 1924, no Rio de Janeiro, quando Carlos Gracie enfrentou o estivador Samuel, conhecido atleta da capoeira.

Helio Gracie tornou-se, rapidamente, o destaque entre os irmãos, pelas inovações técnicas que promoveu como instrutor e pelo espírito indomável que não combinava com o porte franzino. Em consonância com as táticas de Conde Koma, os Gracie continuaram, no Rio de Janeiro, os desafios a capoeiristas, estivadores e valentões de todas as origens e tamanhos. Se em pé tais brutamontes botavam medo, no chão viravam presa fácil para os botes e estrangulamentos que os capturavam como mágica.

As vitórias da família em lutas sem regras foram se acumulando e virando lendas e manchetes nas primeiras páginas. Os alunos famosos também – artistas, arquitetos, ministros de estado, prefeitos, governadores, cirurgiões e doutores de todos os ofícios.

Além dos desafios, os campeonatos entre praticantes, com regras exclusivas do Jiu-Jitsu, se fortaleciam, abastecidos por dezenas de academias diferentes. Nos anos 1960, quando Carlson Gracie já pegara o bastão de seu tio Helio como linha de frente do clã no vale-tudo, um passo importante foi dado para a consolidação do Jiu-Jitsu esportivo. Em 1967, a Federação de Jiu-Jitsu da Guanabara, no Rio de Janeiro, foi criada, sob autorização da Confederação Nacional de Desportos do país. Entre as regras ainda primitivas, manobras como queda, montada de frente com dois joelhos no chão e pegada pelas costas rendiam um ponto ao competidor. A duração dos combates na categoria adulta era de cinco minutos, com prorrogação de três. O Jiu-Jitsu ganhava oficialmente tempo e pontuações.

Nos anos 1990, a arte teve um novo boom. Em duas frentes: criado por Rorion Gracie em 1993, o Ultimate Fighting Championship deu o pontapé inicial (no queixo) no esporte midiático conhecido hoje como MMA. A partir do ídolo Royce Gracie, e com o suor derramado por irmãos e primos aparentemente invencíveis como Rickson, Renzo, Ralph, Royler, Ryan, Carley e companhia, o Jiu-Jitsu como arma de defesa pessoal estava consagrado.

Em outra frente, Carlos Gracie Jr. seguiu a obra do pai na organização dos campeonatos e no fortalecimento da arte como esporte regulado. Estava criada, assim, em 1994, a Federação Internacional de Jiu-Jitsu, assim como a Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu, filiada ao Comitê Olímpico Brasileiro, que hoje promovem torneios para mais de 3 mil atletas de mais de 50 países, como o Campeonato Mundial, realizado anualmente desde 1996.

Um século depois de Conde Koma desembarcar no Brasil, nosso Jiu-Jitsu hoje pode ser praticado do Alasca à Mongólia, de Abu Dhabi ao Japão.

O resto da história continua a ser escrita por cada faixa-branca que ingressa numa academia de Jiu-Jitsu.

 

Fonte: https://www.graciemag.com/pt/historia-do-jiu-jitsu/